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  • Foto do escritorAldigital - Educação

MORTE NA ESCOLA: A CULPA É DA DEEP WEB?


Muitos de nós estamos perplexos com o atentado de Suzano. Gostaríamos de dizer que todos estamos, mas, infelizmente, até a violência se banalizou, ou seja, se tornou um fato comum, ordinário, que não causa nenhum sentimento especial.


E a culpa é da obscura e perigosa deep web, porque essa parte da internet que a gente nem sabia que existia é o espaço da maldade, onde se ensina a fazer bombas, se vendem drogas, órgãos humanos, armas.


Será?


Será que a deep web é isso?


Como toda informação que nos chega hoje, essa também merece ser checada. E qual será a diferença entre deep web e dark web?


E será que a culpa é mesmo da deep web?

Não...


Sei que não é agradável saber, mas, a culpa é nossa: da sociedade, dos educadores e dos pais.


Esse estado de coisas – crianças insensibilizadas, incapazes de estabelecer relações sociais saudáveis e produtivas - é um fenômeno complexo. E com isso quero dizer: um fenômeno que tem vários fatores na sua origem, uma composição de elementos ou coincidências que foram costurando essa situação, que pode, vez ou outra, desaguar numa ação concreta e perigosa.


Isso não aconteceu do dia pra noite, nem em função de um único acontecimento: isso vem acontecendo debaixo do nosso nariz.


À medida que a gente terceiriza a formação dos filhos para a escola e para os aparelhos eletrônicos, em nome de ficar mais livre e ter tempo pra ganhar a vida – o que é importante, é claro; à medida que a gente não se incomoda com as pequenas e diárias degenerações de valores patrocinadas pela mídia, em forma de novelas, música, arte, trocando valores por conforto e prazer – afinal, a gente também merece um refresco, se divertir um pouco, já que trabalha tanto; à medida que a gente desvaloriza e desautoriza o professor – o que é uma incoerência, já que a gente terceiriza os filhos para as escolas...; à medida que as escolas encaram o uso da tecnologia na educação apenas como um diferencial mercadológico para se diferenciar da concorrência, a gente não só permite como agrava as condições dessa doença social.


Mitos foram se formando em torno do uso da tecnologia e hoje são vistos como verdades condicionantes. Isso é um bom tema para outro post. Nunca houve tanta informação disponível. E a gente nunca esteve tão confuso...


E quando acontece alguma coisa assim, a gente se volta às nossas crianças e jovens e tenta mostrar a eles como isso é errado. Eles não vão ouvir. Eles não querem ouvir.  Por quê, meu Deus? Porque a gente deixa que eles fiquem por conta própria 364 dias do ano, 24-7, como eles gostam de dizer, e um dia, um mísero dia, a gente chama pra falar que coisa horrível aconteceu e doutrinar para o bem e para os valores. Esqueça: eles desprezam isso.


A gente só evita que o filho tenha uma vida secreta estando próximo, participando. Próximo fisicamente e disponível emocionalmente.


SEU FILHO É SUA RESPONSABILIDADE.


Só que isso dá trabalho e toma tempo.

Muita gente se frustra com a maternidade ou paternidade, porque decide ter filho do mesmo jeito que escolhe uma roupa nova. Por que não? A roupa nova é linda! Você se sente o máximo nela. Depois você engorda ou emagrece e a roupa já não fica tão bem... A culpa é da roupa? FILHO É PROJETO PRA VIDA INTEIRA. É bom que se saiba. Mas se a gente quiser que o trabalho e as preocupações diminuam ao longo do tempo, invés de aumentarem, precisa se dedicar muito e de verdade na fase da infância e continuar acompanhando bem de perto na adolescência. Essa é a única forma. É claro que a gente sabe que existem as exceções: aqueles que dão certo sozinhos e aqueles que dão errado, apesar de toda a dedicação. Mas esses são, como eu disse, a exceção.


No imenso mar de incoerências, incertezas e perigos que a vida de hoje oferece, nossa única segurança é a proximidade com as crianças que trazemos ao mundo. Tudo o que a gente foi inventando para nos ajudar nesse papel de ser mãe e pai, como as escolas, a psicologia, os estímulos lúdicos, a obrigatoriedade do desenvolvimento de habilidades afetivo-emocionais como componentes curriculares etc., não nos substitui.


Nós entregamos os aparelhos eletrônicos a eles, com acesso à internet e até-logo! O resto é com eles, que sabem muito mais que nós sobre tecnologia, aliás. Eu nem consigo entender e saber o que ele está fazendo, como e com quem. E o pior: acho isso o máximo, sinal da grande inteligência dele que domina a tecnologia. 


Bobagem pura.
Esse é um dos mitos.

A tecnologia é maravilhosa.


A água também é maravilhosa.


Mas nem por isso a gente quer enchentes, umidade nas paredes, água contaminada... a gente quer e precisa do bom uso da água, com controle, qualidade, de modo que nos beneficie e não que nos mate. A tecnologia também.


Ela invadiu nossas vidas muito rápido e nós não nos demos conta dos efeitos sociais do seu uso massificado, não tivemos tempo de nos educar para isso e, pior, não nos demos conta que a gente precisava se educar para isso: parecia que bastava operar com competência...


Agora a gente já sabe:
não basta!


 

Wilges Bruscato

Consultora nas áreas de Pedagogia e Jurídica. Doutora em Direito das Relações Sociais.


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