Afirmar onde começou o mito da criatura que se volta contra o criador, é retroceder no tempo, bastante tempo!
O tema já foi explorado inúmeras vezes e, talvez, a clássica obra de Mary Shelly, Frankenstein, seja uma das precursoras do conceito: a criatura que se volta contra o criador.
É uma história conhecida.
Modernamente, o exemplo mais proeminente seja a Inteligência Artificial e Robôs.
O desejo de criar inteligência em máquinas ou dar a elas, de alguma forma, o senso de “EU”, também não é novo. Não precisamos entrar na história para citar exemplos ou navegarmos pelos enredos de tantos filmes e livros. Mas podemos afirmar que o conceito ganhou uma forma um pouco mais robusta e verossímil depois das obras de Isaac Asimov e seus personagens robóticos, cheios de conflitos existências, e humanoides que se relacionam com os humanos de forma autônoma, reagindo e interagindo de forma inteligente. Além, é claro, do famoso filme “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, exibido no início dos anos 70, onde dois astronautas ficam sujeitos aos caprichos do raciocínio de uma máquina, Hal 9000, que detinha o controle da Discovery, nave na qual estavam embarcados. Arthur Clark não escreveu a obra para que se tornasse uma referência ao medo das máquinas, e Stanley Kubrick não dirigiu um filme de terror, mas é inegável que a obra contribuiu, em muito, para a fortificação da ideia de que podemos ser dominados e até extintos pelas máquinas.
Então, criar o homem a imagem do próprio homem é um desejo e um desafio antigo.
A questão ganhou aspecto de realidade quando os computadores avançaram exponencialmente nas últimas décadas. Temos hoje, em um único smartphone, mais capacidade de processamento do que todos os computadores da face da terra, nos anos 70, somados! Um único celular pode realizar mais operações e de forma mais rápida do que todos os computadores envolvidos nos projetos da NASA que culminaram em levar o homem à lua, durante o final dos anos 60 e início dos anos 70.
Assim, com todo esse poder de processamento, gigantesca capacidade de armazenamento e buscas instantâneas, pensar e se locomover pelo mundo, ao lado de humanos, deve ser uma coisa até que simples. Fácil de aceitar e fácil de temer.
Um máquina totalmente articulada, membros hidráulicos e exoesqueleto em fibra de carbono, dotado de um cérebro poderoso e conectado, capaz de executar centenas de operações simultâneas, disputando lugar no mundo com os seres humanos: não teremos chance.
Seremos varridos da existência.
Isso tem coerência no universo tecnológico e combina com a política do medo e paira sobre o mental coletivo.
Para muitos, não se trata da possibilidade e sim de quando.
MAS NÃO É VERDADE.
Inteligência Artificial e Robótica são duas ciências diferentes, ainda que o sonho seja integrar uma a outra. Enquanto, por um lado, temos uma inteligência artificial capaz apenas de executar tarefas específicas e dentro de áreas do conhecimento específicas, por outro temos avançados sistemas mecânicos que, quando comparados aos humanos, lutam, ridiculamente, todos os dias, para simplesmente se manterem em pé e quando o fazem são motivo de admiração e medo.
Vejamos a melhor definição de Inteligência Artificial:
“É o algoritmo, um programa de computador capaz de simular as reações humanas, tanto nos aspectos cognitivos e sensoriais, quanto da capacidade de criar, interagir e argumentar. ”
Não temos essa tecnologia. E não a teremos tão cedo. O que chamamos de Inteligência Artificial, são sistemas complexos que são capazes de tomar decisões baseados em estatísticas ou outras informações que complementam uma resposta precisa. São os sistemas especialistas. Não são inteligentes.
Há os sistemas de respostas genéricas baseadas no entendimento de uma palavra dentro de um contexto e efetuar uma ligação entre elas, oferecendo uma resposta que simule o pensamento humano.
Ainda há os sistemas de reconhecimento de voz e reconhecimento facial que, devido à grande complexidade e resultados bastante precisos, são assimilados pela definição de Inteligência Artificial.
Por outro lado, vejamos o que é um robô:
"Uma máquina autônoma que existe no mundo real, pode sentir o ambiente e pode agir sobre ele para alcançar seu objetivo ou tarefa."
É artificial, não inteligente. É independente, mas não em áreas diferentes das quais tenha sido programado ou alimentado.
O sistema pode crescer e se tornar inteligente e independente? Não. Ele pode crescer e aprender, dentro de áreas específicas ou correlacionadas, mas não poderá ser independente.
A independência na tomada de decisões complexas, implica em algumas características que nós mesmos ainda não conseguimos definir: a criatividade, a improvisação e o senso de “eu”.
Sendo assim, um Robô não pode ser controlado por uma inteligência Artificial de forma absolutamente autônoma, sempre haverá uma central que determinará sua área de ação.
A inteligência humana sempre estará no controle.
Então: Inteligência Artificial, como se afirma comumente, não existe.
Robôs dotados de Inteligência Artificial e sentido de “eu”, não existem.
Assim, fiquem em paz: a humanidade não será tomada pelas suas próprias criaturas.
É o que eu espero...
Mas poderá sofrer um bocado se não controlar os sistemas especialistas e dar a eles limites de decisão. Uma máquina pode calcular tão facilmente quanto pode matar.
Leandro Modesto
é Consultor Técnico da Aldigital e Palestrante.
Mestre em Ciências Jurídicas e Sociais e Analista de Sistemas.
Fanático por Space Invaders e Star Trek.
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