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  • Foto do escritorAldigital - Educação

PRODUTOS ERÓTICOS, PANQUECAS E MUNDO DIGITAL



Já tive oportunidade de mencionar sobre as consequências da exposição de nossos filhos às telas por tantas horas: televisão, videogames, tablet, celular... (Tecnologia, sim! Mudança de valores, não!)


Só para relembrar, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria: aumento da ansiedade, dificuldade de estabelecer relações em sociedade, estímulo à sexualização precoce, adesão ao cyberbullying, comportamento violento ou agressivo, transtornos de sono e de alimentação, baixo rendimento escolar, lesões por esforço repetitivo e exposição precoce a drogas.


E isso não depende do conteúdo consumido, ou seja: se eu vigiar o conteúdo e garantir que minha criança não consuma jogos ou vídeos com violência, estou sossegado! Infelizmente, não é assim que funciona...


É que o uso intenso dos aparelhos eletrônicos faz com que as crianças e jovens mergulhem numa realidade de imediatismo e controle, na qual os dispositivos obedecem a todos os seus desejos e de modo praticamente instantâneo. E isso faz com que eles não experimentem frustração: podem tudo e imediatamente, o que prejudica a formação da autoestima e da capacidade de resiliência.


Existem estudos que detectaram que as crianças passam mais tempo nas telas do que com os pais, diariamente (E o mesmo acontece da parte dos pais para com os filhos...). A criança brasileira fica, em média, 6 horas por dia em frente às telas. Isso significa que até os 18 anos, ela terá ficado parada em frente a uma tela por mais de 4 anos, ou seja, mais de 20 % de sua vida...


Algumas crianças deixam de sair ou praticar outras atividades, mesmo quando têm oportunidade, para ficarem diante de telas.

E há um aspecto que, muitas vezes, a gente não se dá conta: o da portabilidade da tela. Com tablets e celulares, a tela vai onde os pequenos forem: na pracinha, no parquinho, no carro, no restaurante, na casa da vovó... Antigamente, andar de carro era, por si só, uma atividade divertida: a gente olhava a rua, as pessoas, os outros carros, a paisagem. Hoje, não... É uma sensação de teletransporte: a criança está em um lugar e, de repente, chega em outro, sem perceber o caminho. Há uma sobreposição de estímulos!


Ok.


Mas existe ainda outro aspecto que merece registro: a publicidade.

A razão de ser dos veículos de mídia é divulgar: divulgar histórias, diversão, cultura, notícias, dados, ciência e produtos... E é da propaganda que vem seu sustento.


No Brasil, já existem regras (Constituição da República, Código do Consumidor, ECA, Decreto nº 9.579/2018, CONAR, CONANDA, ONU) sobre a publicidade infantil, buscando garantir que ela não desvalorize coisas importantes como a família, os pais, a escola, os professores, a alimentação saudável e tentando proteger as crianças de serem enganadas pelos efeitos visuais, com personagens de desenhos animados, iludindo a criança, por exemplo. Já é um bom começo. Tudo isso porque a criança não tem desenvolvida sua capacidade de julgamento e é inexperiente. Há pesquisas demonstrando que a exposição da criança à publicidade está associada à obesidade infantil, erotização precoce e estresse familiar. Mas a aplicação dessas normas à internet ainda está engatinhando... em geral, a aplicação se dá às propagandas veiculadas na televisão e rádio.


Então, lá vai mais uma preocupação para os pais, avós, tios e padrinhos: a propaganda embutida nos jogos e aplicativos (em especial, os gratuitos), canais infantis no YouTube etc. Isso requer um trabalho de garimpagem quase impossível de ser feito... E o pior: como não existe um controle e as propagandas exibidas vão se alternando, pode acontecer de anúncios impróprios aparecerem mesmo em ambientes de conteúdo seguro. Um exemplo? Outro dia vi anúncios bem ostensivos de produtos eróticos quando estava lendo uma receita de panqueca! Uau! Quer coisa mais inocente que blog de receitas? Só que não.


De novo e mais uma vez: a internet é grande e pode ser tão confusa e perigosa como grandes avenidas ou praças de grandes cidades. Não dá pra deixar a criança sozinha. Sinto muito.



Wilges Bruscato

Consultora nas áreas de Pedagogia e Jurídica. Doutora em Direito das Relações Sociais.

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