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  • Foto do escritorAldigital - Educação

Quase sempre, esquecer é tão importante quanto lembrar.


Não é de hoje que, vez ou outra, pensamos na similaridade entre os pensamentos humanos e os algoritmos de um computador.



Observamos claramente que todas as funções, rotinas ou cálculos tratados pela máquina, ao executar um programa, seguem a mesma linha de pensamento da mente humana: é certo que os computadores processam informações de forma similar a dos humanos. O contrário não poderia ser, uma vez que os programas são escritos pela mente humana e, assim, é natural que o primeiro reflita a linearidade lógica do segundo.



No entanto, sempre nos pareceu errado comparar o pensamento de uma máquina ao pensamento humano, ainda que estejamos na era da inteligência artificial ou das máquinas que aprendem. A complexidade das conexões mentais e sentimentos humanos, vão muito além do processamento de dados para obtenção de informações úteis para uma tomada de decisão, por exemplo.


E isso não nos torna superiores em vários aspectos.


Pelo contrário, a desordem provocada pelos sentimentos, pelo ego, pela senciência humana, quase sempre atrapalha nas tarefas mais simples: é a falta de objetividade ou falta de organização. Dois elementos que os computadores têm de sobra, visto que não há qualquer consideração com outros fatos além de processar o que lhes é mandado.



Muito se tem falado na construção do pensamento computacional como uma forma de oferecer aos jovens recursos e habilidades que permitam entender melhor as máquinas e, assim, operá-las e não ser substituído por elas. Isso parece um paradoxo: desenvolver o pensamento computacional é despertar uma forma de raciocínio que permita um convívio mais transparente com as máquinas, oferecendo uma visão clara de todos os processos ocultos durante o funcionamento de um programa ou app, como são chamados agora. Na verdade, o pensamento computacional já está dentro de cada um de nós e a verdadeira tarefa que cabe ao educador não é a de construir o pensamento computacional nos jovens, mas fazer com que entendam esse pensamento e o apliquem em sua vida pessoal, que percebam que pensar computacionalmente vai torná-los mais produtivos e, talvez, mais felizes.



Essa é a verdadeira importância de ensinar a programar computadores, assim como ensinamos matemática ou geografia. Não é apenas um valor técnico curricular: é uma forma de pensar mais organizada, produtiva e realmente pronta para o novo mundo.



Não importa em qual linguagem a escola vai começar. Existem muitos educadores na área tecnológica e cada um deles tem a sua própria opinião sobre a melhor linguagem para iniciantes ou a melhor técnica a ser aplicada. Mas, parece não haver acordo sobre o que realmente importa: entender o pensamento computacional e descobri-lo dentro de si mesmo, aplicando-o nas tarefas diárias e, no caso dos jovens, ajudando-os a fazerem as melhores escolhas.



Em um exemplo simples: imaginemos que você está determinado a arrumar uma gaveta. Primeiro você abre a gaveta e observa tudo o que tem lá; depois, se não se render à vontade de fazer outra coisa, vai começar retirando tudo de uma vez só ou vai separar os objetos entre grupos como “lixo”, “doação”, “limpar” ou “nem lembrava que ainda tinha isso”.



Dois processos computacionais clássicos estão à sua disposição: a seleção por looping ou a pilha. Estes são métodos comuns de separar e coletar dados em um sistema computacional.



No primeiro, você pega objeto por objeto, analisa, verifica a que grupo ele pertence, se não houver o grupo, você cria e, assim, vai repetindo a tarefa até que se esgotem os objetos, exatamente como um computador quando procura determinado registro em um arquivo de dados, por exemplo, item por um item, classificando-os até encontrar o que procura ou chegar ao final do arquivo.



No segundo método, você começa verificando os itens mais antigos e vai em direção aos mais recentes, de forma que se aplique a teoria “o primeiro que entra é o último que sai”. Neste processo, você pensa em dois grupos: coisas velhas e coisas novas.



Sendo um ou sendo outro, o processo é linear e tem início, meio e fim, porque você é humano.


Um computador já sabe que entre o início e o fim, sempre será o meio.


Se você está ciente destas duas formas, escolher apenas uma delas e não se deixar perder o fluxo ou foco no que está fazendo, rapidamente você terminará a tarefa e sua gaveta estará organizada, a não ser que o fator emocional o impeça de separar os objetos, dificultando o término da tarefa.



Isso nos leva a seguinte conclusão: a mente humana não faz duas coisas ao mesmo tempo.


Nós roteamos funções, assim como os computadores, ou seja, se estamos fazendo várias coisas ao mesmo tempo, estamos, na verdade, alternando entre pedaços picados dessas coisas; ora estamos em uma, ora estamos em outra e isso causa um decréscimo na velocidade de execução nos pensamentos humanos e grande possibilidade de erros.



Os computadores também fazem esse processo de roteamento de pedidos e ainda analisam graus de prioridade, gerenciam o espaço de memória e, aquilo que está sendo feito no momento, fica guardado no cache, que é onde os computadores guardam coisas para serem lembradas mais rapidamente.


Acontece que, quando o cache fica cheio, é preciso retirar alguma coisa para dar lugar a outras. É como esquecer uma coisa que não é importante agora. Para lembrar dela novamente, o computador recorre à memória externa ou discos rígidos ou qualquer outra forma de armazenamento.



Já percebeu quantas vezes você esqueceu de algo só porque não pensa naquilo com tanta frequência? Mas, depois de alguns segundos, consegue lembrar? Sim, o que você procurou saiu do cache e precisou ser encontrado em outro local da memória e isso consumiu mais tempo.


O fator tempo é determinante na eficácia computacional e também o é na vida humana.



É fácil entender que, para um novo conhecimento, você esquece uma coisa que sabia antes, e sabia na ponta língua; por isso é importante não manter o cache de sua mente ocupado com coisas inúteis, como a cor do vestido da vizinha. Mantenha seu cache atualizado e sempre pronto a atender sua necessidade com coisas importantes.



Isso nos faz lembrar da vida de alguns gênios da matemática ou da física, quando afirmavam que mantinham em seus armários apenas roupas iguais, só para não perder tempo pensando em que roupa iam vestir...



A questão do gerenciamento de memória é um desafio para os cientistas e engenheiros da computação. A qualidade e a velocidade dos processadores aumentaram muito nas últimas décadas, mas o gerenciamento de memória continua sendo um desafio constante, embora tenham havido grandes progressos.



A IBM desempenhou um significativo papel na implementação de sistemas de cache nos anos 60. Seu trabalho nos algoritmos para armazenamento de cache foi o berço da estrutura computacional que temos hoje.



Isso parece simples, mas não é, ainda que reflita exatamente como pensamos. Veja: se você está digitando um texto em seu computador, pode estar consultando também um e-mail ou uma página na internet por meio do seu navegador. O fato de você ter usado um destes programas é entendido pelo computador como probabilidade de que você o fará novamente e o programa que você não usou recentemente é, para ele, aquele que você não usará por algum tempo. Assim, ele vai reciclando as hierarquias de memórias, organizando o cache de trabalho e deixando tudo o que você, supostamente, precisa sempre ao seu alcance, o mais rápido possível.

Isso parece uma boa forma de antecipar o futuro.



Analisando o passado, observamos o que fizemos com mais frequência e antecipamos o que iremos fazer no futuro, uma dedução bem simples. Fácil de aceitar, mas difícil de aplicar na prática... já ouviu a frase: “para saber o futuro, basta olhar para o passado? ”



Gerenciar pensamentos entre importantes, urgentes ou inúteis é sinal de organização, objetividade e maiores chances de concluir a tarefa de forma correta e no menor tempo possível.


Por isso, esquecer, às vezes, é tão importante quanto lembrar.





Leandro Modesto

é Consultor Técnico da Aldigital e Palestrante.

Mestre em Ciências Jurídicas e Sociais e Analista de Sistemas.

Fanático por Space Invaders e Star Trek.


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