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  • Foto do escritorAldigital - Educação

TECNOLOGIA, SIM! MUDANÇA DE VALORES, NÃO!


A tecnologia atual nos traz inúmeras vantagens, em termos de economia de tempo, de dinheiro e de esforço físico.


No grau de sofisticação ao qual já nos habituamos, quem de nós gostaria de voltar a rachar lenha para acender o fogo na cozinha? Ou passar roupa com ferro de brasa? Ou usar papel carbono pra fazer duas ou mais cópias de um mesmo documento? Ou voltar a quarar fralda de pano?


Não.


A tecnologia é muito sedutora.

Facilita nossa vida.


E é por isso que ela foi entrando e interferindo em tudo na nossa vida, mesmo em coisas que a gente não percebe. Como em nossas casas e famílias. Interfere, até, em nossas relações de pais e filhos.


Toda moeda tem dois lados. A da tecnologia também. Uma variação do Cavalo de Troia que Nicholas Negroponte já citava em 1995. A par das reais e inegáveis vantagens que oferece, ela também traz riscos. Um deles é, justamente, que muitos de nós estão indo no automático na onda tecnológica, estamos nos deixando enredar sem pensar.


E por quê? 


Os motivos que nos levam a comprar e consumir tecnologia sem pensar são:


•      os grandes benefícios e facilidades que a tecnologia traz;


•      a velocidade com que os adventos tecnológicos aparecem; nem bem temos tempo de assimilar uma novidade e lá vem outra!


•      o nosso ritmo de vida alucinado, que não nos dá tempo pra pensar, ponderar, amadurecer e, sequer, observar as coisas;


•      o apelo social para não ficar de fora do que está acontecendo, afinal de contas, todos queremos nos sentir incluídos e normais;


•      e, por último, mas não menos importante, a sensação de aparente ausência de riscos, pois, em geral, usamos dispositivos eletrônicos na segurança das nossas casas, trabalhos, escolas, carros. Nos sentimos protegidos – e achamos que nossos filhos estão protegidos, pois estão fechadinhos no quarto...


Muito bem.


Talvez o mais traiçoeiro dos motivos de irmos no automático quando vamos incorporando a tecnologia na nossa vida e de nossas famílias seja essa falsa percepção de segurança. Pra ilustrar, ninguém deixaria sua criança sozinha na Praça da Sé em São Paulo, por exemplo, porque as estatísticas mostram que há muitos perigos. Pois bem: a internet é bem maior que a Praça da Sé e pode ser igualmente perigosa...


O fato é que essa avalanche tecnológica - e de modo bem especial o celular - está causando efeitos colaterais nas famílias, fazendo com que o poder esteja sendo deslocado dos pais para os filhos, de modo quase imperceptível, além de causar o isolamento das crianças e jovens. Muitos pais não conhecem a vida secreta dos filhos, que acontece em virtude do celular. E acreditem: essa vida secreta existe e nela acontecem coisas – graves - que nem imaginamos!

 

Os nossos bebês praticamente nascem com o celular nas mãos! Mas quem dá o celular pra eles? Nós, é claro. Entregamos aparelhos eletrônicos para os nossos bebês e com isso compramos nossa paz. Somos pais e mães despreparados, imaturos pra lidar com o nível de exigência física que as crianças trazem a nossa vida. Então, em nome de ter algum tempo de paz, de poder fazer algum serviço doméstico, de terminar um trabalho, de ficar eu mesma no Facebook ou no YouTube, eu entrego o celular ou o tablet pro bebê e junto com eles, entregamos o controle da família.


Não se trata aqui de uma simples disputa de poder, de medir forças entre pais e filhos.

Trata-se de uma situação em que os maiores prejudicados são os nossos próprios filhos, as crianças e jovens que amamos... que são o legado de nossa geração para o futuro. E não é possível prever as consequências sociais disso para daqui 10, 20 ou 30 anos.


As crianças e jovens brasileiros têm ficado diante das telas por seis horas, em média, por dia, ou seja: ¼ do dia, 25% do dia, quando a recomendação da Associação Internacional de Pediatria é que o acesso seja de, no máximo, (haha!) uma hora por dia para crianças até 6 anos.


E atenção:

CRIANÇAS ABAIXO DOS 2 ANOS NEM DEVERIAM TER ACESSO...

A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que a exposição diária diante das telas para maiores de 6 anos, inclusive adolescentes, seja de, até, 2 horas.


A verdade é que, apesar de haver tanta informação disponível hoje, graças à própria tecnologia, ainda se sabe pouco a respeito dos desdobramentos e consequências a médio e longo prazo do uso intenso de dispositivos eletrônicos por crianças e jovens, como questões de desenvolvimento neuromotor, cerebral, mental, cognitivo e, claro, psicossocial. Isso, sem mencionar os efeitos da poluição eletromagnética.


Hoje, em muitas casas, uma informação vista no Facebook é mais valiosa que um conselho de pai ou de mãe... Está aí o Tinder que não nos deixa mentir...


Esse uso tão intenso dos aparelhos eletrônicos faz com que eles vivam de modo quase permanente no IMEDIATISMO e no CONTROLE, literalmente, no controle, porque quando a gente se relaciona com a máquina ela nos obedece em TODOS os nossos desejos e de modo praticamente INSTANTÂNEO. A criança e o jovem não experimentam frustração: eles podem TUDO e IMEDIATAMENTE.


A pedagogia e a psicologia já nos ensinaram que a ausência de frustração é prejudicial à formação da autoestima e à formação da capacidade de resiliência, de superar situações difíceis, que todos nós temos que enfrentar algumas vezes na vida, ou seja, coisas fundamentais para um adulto e um futuro profissional feliz e socialmente ajustado.


A Sociedade Brasileira de Pediatria já detectou que, entre as consequências do uso excessivo de tecnologia estão:


•      aumento da ansiedade,

•      dificuldade de estabelecer relações em sociedade,

•      estímulo à sexualização precoce,

•      adesão ao cyberbullying,

•      comportamento violento ou agressivo,

•      transtornos de sono e de alimentação,

•      baixo rendimento escolar,

•      lesões por esforço repetitivo e

•      exposição precoce a drogas.


Tantas horas no mundo digital, onde tudo pode, vai entorpecendo, inclusive, a capacidade de sentir: as crianças e jovens ficam com os sentimentos embotados, não são mais capazes de sentir alegria, tristeza, medo, amor, nada...


Todos esses transtornos trazem efeitos danosos à saúde individual e coletiva, com graves reflexos para o ambiente familiar e escolar e, claro, para o futuro do próprio país.


E isso rende muito e muito mais! O assunto seria extenso!


E muitos pais contam que é a escola que vá consertar esse estado de coisas! Olha, mas nem toda “escola de inteligência de vida” do mundo vai dar conta disso, se as famílias, os ADULTOS das famílias não tomarem de volta seu lugar de autoridade e RESPONSABILIDADE.

O trabalho só vai funcionar se for conjunto entre família e escola.


Por isso, entre nossas recomendações, está que a gente nunca pode perder de vista que as MUDANÇAS TECNOLÓGICAS não devem interferir nos VALORES da nossa família.


A gente incorpora a tecnologia de forma inteligente, pensada, mas não permite que ela altere valores.


Acredite: é melhor, mais rápido, mais barato, mais maduro, mais humano, mais amoroso e menos sofrido aguentar algumas birras porque você está limitando o uso do dispositivo eletrônico agora – só até que eles internalizem a nova rotina - do que enfrentar o que pode vir pela frente... 





Wilges Bruscato

Consultora nas áreas de Pedagogia e Jurídica. Doutora em Direito das Relações Sociais.

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